CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS

____________________________________________

[ARQUIDIOCESE] DE CRACÓVIA

PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO

DO SERVO DE DEUS PAWEŁ SMOLIKOWSKI

SACERDOTE DA CONGREGAÇÃO DA RESSURREIÇÃO DE N.S.J.C.

(1849-1926)

DECRETO SOBRE A HEROICIDADE DAS VIRTUDES

“Assim, não sendo escravo de ninguém, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número possível. ...fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a todo custo.” (1 Cor 9,19.22)

             Esta confissão do Apóstolo das Nações, que mostra sua identificação com o Senhor Jesus como modelo de vida para os apóstolos de todos os tempos, resume melhor as mais profundas convicções espirituais do Servo de Deus Paweł Smolikowski e o estilo admirável de seus numerosos empreendimentos apostólicos e pastorais. A verdadeira essência de sua vida interior era um diálogo constante e amoroso com o Senhor Jesus e uma ligação diária com Ele através da heroica imitação de Sua vida como Salvador. Essa ligação com Cristo, que tanto amou as pessoas que se tornou seu servo, era a força que impelia o Padre Paweł a transcender a si mesmo e a identificar-se com os outros, para melhor servi-los e salvar, a todo custo, pelo menos aqueles que a vontade de Deus colocava em seu caminho. 

O Servo de Deus nasceu em Tver, na Rússia, em 4 de fevereiro de 1849 e foi batizado em 13 de março. Seu pai era engenheiro militar e sua mãe vinha de uma família nobre. Após a queda da revolta polonesa contra o regime czarista (1830-1831), sendo ambos poloneses, encontraram-se na Rússia. Na casa da família, Paweł não só respirou um clima de profunda religiosidade, mas também recebeu sua primeira formação intelectual, aprendendo, entre outras coisas, francês, alemão, inglês e russo. Dez anos após seu nascimento, a família mudou-se para Varsóvia. 

Entretanto, Paweł começou a perceber cada vez mais claramente sua vocação para o sacerdócio e a vida religiosa, que conseguiu realizar ao ingressar no noviciado da recém-criada Congregação da Ressurreição do Senhor. Fez seus primeiros votos em 1868, os votos perpétuos em 5 de março de 1873, e em 15 de abril do mesmo ano foi ordenado sacerdote no rito oriental, com a intenção de servir como missionário entre os Uniatas Búlgaros, com a esperança de contribuir assim para a união da Rússia com a Igreja. Inicialmente, no entanto, teve que substituir o mestre dos noviços em Mentorella, perto de Roma, o que lhe deu a oportunidade de completar seus estudos com um doutorado em teologia. 

Em 1874, chegou à Bulgária como educador e missionário. Alguns anos depois, mudou-se para Lviv, na atual Ucrânia. Após anos de intenso serviço, especialmente entre crianças e jovens, foi nomeado reitor do Colégio Polonês em Roma. Como fruto desse trabalho educacional, surgiu um sistema pedagógico original, ainda hoje praticado por seus filhos espirituais. Em Roma, também desempenhou várias funções dentro de sua Congregação, incluindo a de Superior Geral, para a qual foi eleito em 1895. Seu generalato de dez anos foi caracterizado por uma preocupação com o nível de vida espiritual dos confrades, mas não foi isento de tensões, causadas principalmente pela introdução de novas Constituições, que nem todos compartilhavam. 

Em 1905, o Padre Paweł foi novamente nomeado reitor do Colégio Polonês em Roma. No entanto, quando a Primeira Guerra Mundial estourou, o Servo de Deus, como cidadão do Império Habsburgo, teve que deixar a Itália, que estava em conflito com a Áustria. Por essa razão, em 1915, mudou-se para Kęty, na Polônia, onde serviu como capelão das Irmãs da Ressurreição e visitador dos Ressurreicionistas nos países da monarquia austro-húngara e nas missões no Oriente. 

Após o fim das hostilidades, ainda serviu por dois anos como reitor do Colégio Polonês, até que em 1921 se mudou para Cracóvia, onde se tornou mestre dos noviços e se envolveu na pregação da palavra de Deus e na direção espiritual. Nesse período, sistematizou, desenvolveu e difundiu a espiritualidade pascal herdada dos Fundadores de sua Congregação, que, graças ao exemplo de sua vida e às suas numerosas publicações, se tornou um tesouro valioso para os Ressurreicionistas e para toda a Igreja. A partir de 1924, seu estado de saúde começou a deteriorar-se e surgiram sinais de paralisia progressiva.

Em todos os períodos de sua vida mencionados acima, o Servo de Deus respondeu com entusiasmo e consistência ao chamado de Deus. Essa resposta foi um sinal de seu desejo de buscar o caminho da perfeição e de percorrê-lo com generosidade. Grande era sua fé, alimentada pela oração diária e pela espiritualidade eucarística e mariana. Ele era caracterizado por um amor ardente, que orientava sua vida para o serviço a Deus e ao próximo. A entrega total à vontade de Deus, o cumprimento exato dos deveres do ministério sacerdotal, a dedicação às almas, o espírito de mortificação como reparação pelas ofensas à honra de Deus, eram seus primeiros pensamentos e as ações mais importantes de seu dia a dia. Deles derivava um profundo amor pastoral, que tinha como modelo o Sagrado Coração de Jesus, nas cujas méritos depositava toda a sua confiança.

Ele viveu na presença do Senhor e, especialmente nos momentos de prova e dificuldade, mostrou uma mansidão corajosa e uma prudente moderação. Os testemunhos de sua fidelidade inabalável à Igreja e ao seu magistério foram muito numerosos. O “clima interior” de sua figura espiritual era caracterizado por uma profunda humildade, pela qual se sentia sempre um simples instrumento nas mãos do Senhor, a quem nutria uma enorme gratidão pelo chamado ao sacerdócio e à vida consagrada.

O Servo de Deus terminou sua vida terrena em 11 de setembro de 1926. No funeral, compareceram multidões de confrades, clérigos e fiéis, um sinal visível de reverência e convicção sobre a santidade de sua vida e gratidão pelo legado que deixou.

            Com base nessa fama de santidade, de 24 de maio de 1966 a 29 de abril de 1968, ocorreu na Cúria Arquiepiscopal de Cracóvia um processo informativo e dois processos rogatoriais, primeiro em Cracóvia e depois em Roma. Sua validade jurídica foi confirmada por este Congregação com decreto de 17 de maio de 1991. Após a preparação do Positio, ocorreu, de acordo com os procedimentos vigentes, uma discussão sobre se o Servo de Deus demonstrou heroicidade na prática das virtudes. Em 14 de setembro de 2010, ocorreu uma Sessão Especial dos Consultores Teológicos, que terminou com um resultado positivo. Em 5 de dezembro de 2017, os Cardeais e Bispos na Sessão Ordinária, que eu, cardeal Angelo Amato, presidi, reconheceram que o Servo de Deus praticou de forma heroica as virtudes teologais e cardeais e outras a elas associadas.

Após a preparação para o Santo Padre Francisco de um relatório detalhado sobre todos esses assuntos pelo Cardeal Prefeito, Sua Santidade, aceitando e aprovando a decisão da Congregação para as Causas dos Santos, declarou hoje:

No caso em questão, declara-se que o Servo de Deus Paweł Smolikowski, sacerdote da Congregação da Ressurreição de N.S.J.C., praticou em grau heroico as virtudes teologais da fé, esperança e caridade tanto para com Deus quanto para com o próximo, bem como as virtudes cardeais da prudência, justiça, temperança e fortaleza e outras a elas associadas.

Este decreto, o Sumo Pontífice ordenou que fosse publicado e incluído nos arquivos da Congregação para as Causas dos Santos.

Dado em Roma, no dia 18 de dezembro do ano do Senhor de 2017

ANGELUS Card. AMATO, S. D. B.

Prefeito 

+MARCELLUS BARTOLUCCI

Arcebispo titular de Bevagna

Secretário